Há algumas semana, cerca de um mês, recebi a proposta de um trabalho, uma diagramação de livro. Quando recebi a autora, Celina Colho, para conversarmos a respeito da obra, ela me contou que se tratava da história de Lia do Vagão, uma moradora de Contagem, um tanto quanto icônica.
Deixou comigo o texto do livro, fotos e muitas memórias, para que estudasse a proposta. Quando percebi, estava extremamente envolvida com a história, desta mulher que escolhera um vagão da antiga Central do Brasil para morar, onde não tinham trancas e fechaduras, e quem quisesse ali adentrar, só precisava tocar o sino que ficava logo na entrada e ela já vinha receber.
Na placa de sua casa “QUEM GUARDA O QUE UM NÃO QUER, SEMPRE TEM O QUE UM OUTRO PRECISA. FAÇA SUA TERAPIA ENTRANDO NO MAFUÁ DA LIA.", frase que definia bem sua filosofia de vida. Gostava de encontrar coisas descartadas que ainda podiam ter muitas outras funções, via a beleza das coisas desacreditadas e às resgatava. O que tinha vendia, trocava ou doava, tudo na maior alegria.
Recebia as visitas mais variadas, de pessoas que iam até lá para vê-la, para conhecer seu mafuá, para procurar algo que jamais encontrariam em outro lugar, visitas de escolas para que os alunos aprendessem reciclagem, de programas de TV que queriam contar sua história, da produção de filmes, como "O menino Maluquinho" e de séries, como " Sítio do Pica-pau Amarelo" em busca de elementos para compor cenário,e todas recebia com largo sorriso.
Sua casa estava sempre aberta, e o que ela pedia? Nada, mas caso o visitante pudesse, um quilo de alimento não perecível, para montar cestas básicas, que doava no fim do ano, durante o Natal sem Fome, evento que produzia e amava profundamente. Na época, havia festa garantida, com mesa de frutas organizada por ela, que vestia de mamãe noel e comemorava com todos, colocava os laços de presente, que haviam sido descartados, para enfeitar as lixeiras e caminhões de lixo, onde comemorava também com os limpeiros(maneira como chamava os lixeiros, por dizer que ela, acumulando tanta coisa, é que seria uma lixeira, e não eles que limpavam as ruas).
Seus atos e trejeitos, me deixaram admirada, uma mulher extremamente simples e que se doava a todos, estava sempre disposta a fazer o bem, a fazer parte. E me fez parar para refletir, o que eu estou fazendo? Seu exemplo é a prova de que não é necessário muito para se fazer o bem, podemos praticá-lo em toda parte, podemos nos encantar com a vida a cada dia, vivermos em comunhão com a natureza e com as oportunidades que surgem a todo momento, doarmos a nós mesmos e nosso tempo.
Abaixo, um pequeno vídeo, para ilustrar quem era essa figura, que nos deixou no ano passado, com muitas lições a aprendermos:
Se inspirem ^^
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