LiteraClave - Filhos do fim do mundo

Opa!
Vou falar sobre um livro que tem como tema o fim do mundo. Se você anda em lojas de livro com frequência ou assiste filmes um alarme já disparou na sua cabeça: De novo!!!!
Desliga esse alarme chato de achar que vai ser o mais do mesmo e vem comigo nesse mergulho em filhos do fim do mundo.

O relógio marca meia a noite e todos os recém-nascido e bebes menores de um ano morrem sem explicação alguma. O que você faria? Como o mundo ficaria? Você realmente acha que isso não afetaria sua vida?


O Autor traz para gente um panorama interessante sobre o fim, tenta retratar a dificuldade que é de se manter uma multidão diante de uma situação impactante. Como manter a ordem quando a esperança é tão pouca? E é baseado nessa coisa tão abstrata que é a esperança que se constrói toda uma história. Acompanhamos os primeiros fatos distantes, como se enxergando os fatos ocorrerem, somos tão impotentes quanto os personagens que estão ali. Sem dar nome aos personagens indicando-os apenas por suas características mais marcantes em letras maiúsculas (como fiz na primeira linha desse parágrafo, indicando Fábio M. Barreto apenas como Autor). Somos atrelados a figura do Repórter e acompanharemos toda a caminhada dele e da Esposa que esta grávida, ele possui uma esperança incomum em si mesmo e acha que conseguirá, de alguma forma, salvar sua mulher e filho do trágico destino. Outro núcleo de ação ocorre entre o governador e um blogueiro, enquanto um busca manter a ordem e a busca de explicações que ninguém tem, o outro busca informações genuínas que ninguém possui e quer de volta a sua ferramenta. O conflito entre os dois começa por causa de um ego maior que o objetivo. A trama traçada gera de forma interessantíssima várias emoções, o que foi resumido aqui não passará um por cento do que essa história carrega. Fabio Barreto tem um grande domínio das palavras e da narrativa fazendo com que toda essa técnica contribua com a obra. Abaixo vou colocar as coisas que me marcaram e levantar possíveis discussões que podem conter spoiler, aconselho que leiam o livro primeiro antes de continuar seguindo aqui.


Estou avisando novamente! Pode conter partes cruciais da história daqui pra baixo!
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Decisões criativas


Quando ouvi que os personagens não continham nome, em um podcast, fiquei intrigado sobre como seria essa narrativa, afinal poderia ficar cansativo escutar a mesma denominação sempre. Não ficou cansativo nenhum um pouco, o Autor consegue driblar essas repetições. Outra coisa que passou em minha mente foi “Como vou me ligar emocionalmente a alguém sem nome?”. Inicialmente isso foi uma dificuldade, Como os personagens são bem humanos e criveis três parágrafos depois eu já estava envolto na relação do Reporte com a Esposa, E então a ausência de nome passou a dar a impressão que poderia os fatos poderiam acontecer no dia seguinte. Outra escolha criativa e interessante é a voz do narrador que realmente parece só um relator dos fatos, em alguns momentos ele se aproxima para falar sobre os pensamentos dos personagens mas em sua maioria ele é alheio ao que sentem os personagens. 

Partes Preferidas


- Cena de ação: sem dúvida nenhuma a cena final em que eles estão encurralados na cabana, e o Repórter mostra toda a capacidade de suas habilidades, que foram citadas durante o livro, mas você nunca via acontecer. Então de repente, elas são colocadas em uma cena que é o grande clímax do livro.

- Cena mais emocionante: O reencontro do Repórter com a esposa, ele já sabendo o destino provável de seu filho e morrendo de saudade de sua mulher. É uma sequência tocante do diálogo com ela.

- Cena de tirar o fôlegoO Repórter liga para a irmã buscando notícias de seu sobrinho. Eu literalmente parei de respirar até o desfecho.

- Cena mais engraçada: O momento mais curto de todos, mas que eu gargalhei, pode ter sido um pouco de nervoso, é quando ele faz uma brincadeira com zumbis no fim do mundo. a cena anterior era tensa e aquilo foi mostrando o quanto uma ideia ridícula parece aceitável em uma situação extrema, quando gritam sobre zumbis eu gargalhei porque aquilo pareceu tão ridículo que eu soltei até um “o que esse povo tem na cabeça?”

- Cena que me deu medo: A cena do cachorrinho de estimação da filha do governador, o medo de confirmar o que vinha se desenhando foi tanto que eu parei o capítulo ali e fiquei um tempo protelando a leitura… Mas acabou que eu li e aquilo doeu de forma a lembrar de todos os animais de estimação que já se foram.

- O fim: O final foi surpreendente! O filho nascer foi algo construído como expectativa e se cumpriu, porém as mortes que ocorrem e como a mãe e o filho se salvam foi muito bem pensado e claro de uma coragem grande, no caso das mortes.

- Meu personagem preferido: Houve uma grande dúvida nesse tópico, afinal cada um dos personagens tem seu ponto marcante e foi difícil escolher um mas eu gosto muito da forma com que o Padre se porta e como as atitudes dele condizem com aquilo que ele prega. 

Pontos a serem pensados


Aprofundando um pouco no que falei sobre a construção do livro entorno da esperança e da capacidade humana de criar um abismo com os próprios pés, vejo variados pontos na narrativa que nos fazem pensar sobre como nos portaríamos se fosse o fim do mundo. Infelizmente( ou felizmente) a resposta desse pensamento só chegará caso tenha um fim do mundo. Pois como o livro frisa em vários momentos as reações humanas vão muito além do racional e isso torna o futuro um mar de variáveis incertas. E as minhas perguntas para refletirmos um pouco sobre o que O Autor nos direcionou é: Qual o personagem gostaríamos de ser no fim do mundo? Qual deles gostaríamos de agir como? Se tudo desmoronasse como estaria nossa esperança?


Concluindo


Talvez eu tenha me prendido um pouco além da história mas é algo que foi inevitável, não é possível ler uma coisa que te leva a reações variadas e não se questionar o porque daqueles sentimentos ou o porque se identificar tanto com algum dos personagens. Acho que é desperdiçar a oportunidade de crescer de alguma forma. O “filhos do fim do mundo” é uma grande chance de se observar através do prisma da ficção, um reflexo de um possível mundo sem a esperança.





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